quinta-feira

Silvinho e Pepa - capítulo 5

O contumaz lisonjeador passou a andar com um gravador escondido no bolso da camisa, aparelho da empresa que não hesitava em levar para casa. A qualquer sinal de crítica a Pepa, ele apertaria o botão para captar a blasfêmia.

Que o petardo partisse de sua esposa, o que valeria ao menos um motivo para abordar a musa no corredor no dia seguinte e fazer uma piada, implorando por atenção. A chefe e a mulher eram velhas conhecidas.

Mas não adiantou. A mulher do pelego não andava lá muito interessada nas coisas de Pepa e por mais que ele insistisse, não a espinafrava, a maldita.

E se antes já era difícil a turma do escritório falar mal da visionária do ramo do fertilizante, agora ninguém mais se arriscava - Silvinho não entendia direito o que estava acontecendo. 

O rapaz se desesperava. Sem comer ou dormir direito, passou a ter crises de visão turva. Depois de mais uma noite mal-dormida, chegou ao trabalho e se surpreendeu com Lígia, que ousava estar no escritório antes dele. O pior dos mundos é que Pepa e a garota conversavam animadamente em um canto, com a estagiária experimentando um dos característicos braceletes com motivos de oncinha da chefe. 

Antes do desmaio, Silvinho se imaginou esmurrando a garota e subindo em seguida em uma das mesas. Para declamar os versos que havia escrito sobre a delícia de trabalhar em uma fábrica de merda tão especial.

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