sexta-feira

Cenas corporativas*

2008
Estagiária 1: achei demais a palestra ontem. ficamos até 22 horas aprendendo absolutamente tudo sobre o mercado, métodos de ação pró-ativa, fluxos comportamentais, tudo muito bem documentado com essa apostila, que vou ler em casa essa semana.

Estagiária 2: eu não fui porque à noite fiquei lendo os cases que fizeram mais sucesso no ano passado. foi maravilhoso saber como podemos desenvolver estratégias para os clientes e mais ainda, ter a certeza de que aqui temos o maior respaldo para coloca-las em prática.

2009
Funcionária Júnior 1: tenho que ir na palestra hoje, mas tenho prova na faculdade. vou ter que convencer o professor a me deixar entregar um trabalho depois.

Funcionária Júnior 2: eu estava no bar com minhas amigas umas 10 da noite, aí o telefone tocou. adivinha quem era? tive que voltar aqui pra preparar a apresentação que eu e ela vamos fazer hoje à tarde no cliente. acontece.



2013
Funcionária Plena 1: tive que ir naquela merda de seminário outra vez.

Funcionária Plena 2: nós somos trouxas. temos que nos rebelar, se não vamos passar a vida aqui indo nessas bostas de cursos depois do expediente. além de tudo, aquela lazarenta fica me mandando buscar café pra ela.

2016
Funcionária Sênior 2: aproveita que vai lá falar com a estagiária nova pra aprontar todos aqueles relatórios hoje sem falta e me manda ela buscar um café.

Funcionária Sênior 1: combinado.


2032
Gerente 1: foi baixa a adesão ao último seminário de boas-vindas ao mundo corporativo, não achou?

Gerente 2: foi. duas das estagiárias novas faltaram, alguma coisa deve estar errada.


* pra algumas pessoas que eu conheço, fazer piada ou brincadeira sobre isso não faz o menor sentido. em todo o caso, acho que pra outras pessoas pode fazer algum.

9 comentários:

Verena Ferreira disse...

ótimo. muito bom!

Anônimo disse...

Eu entendo perfeitamente, embora tenha entrado no mundo corporativo depois de velha. Mas, assim como era na redação, os estagiários são basicamente mão-de-obra escrava. E estão sempre empolgadíssimos em absorver tudo. São as esponjas corporativas.
Tem uma que trabalha por aqui que leva a sério todos aqueles manuais de auto ajuda executiva. Outro dia ela estava dizendo para outra as maravilhas de ter lido o segundo livro do mesmo autor de "o monge e o executivo". Aproveitei a deixa e disse que estava aí mais um clássico da literatura corporativa e caí na gargalhada. Ela ficou indignada, mas ficou mais brava ainda quando eu disse que iria lançar um livro com todos os clichês desse universo, cujo título seria "quem comeu o meu monge?" Hoje ela não olha mais na minha cara.

paris disse...

Cascatão, muito boa a história de estagiário que você contou.

Não sabia que o autor de "o monge e o executivo" havia conseguido escrever algo depois de uma estréia tão brilhante.

E agindo da maneira que contou, você deve ser encarada pelos estagiários que acreditam na coisa toda como um monstro, a Cuca (do sitio do pica-pau amarelo) do Mundo Corporativo.

beijo.

Anônimo disse...

Hahaha faz todo o sentido, viva o mundo corporativo, sorte daqueles que acreditam em tudo que ele vende. Não sou dessas felizardas.

Anônimo disse...

Para Scott Adams, pelo menos, fez sentido.

Isso parece indicar que, na pior das hipóteses, estás em excelente companhia.

Um abraço.

Anônimo disse...

BRILHANTE!!!!!!!!!!!!!sou um "escravo" de pessoas que fazer piada ou brincadeira sobre isso não faz o menor sentido, tenho sempre que ir a esses eventos se não essas pessoas ficam fulas da vida e aí já viu né? na realidade quem viu um viu todos!!!!!!!!!!!

Unknown disse...

Uma vez eu cheguei na empresa onde eu trabalhava, do tipo dessas "somos uma grande corporação" e todo mundo estava em pé, discutindo, uma confusão total tentando ser organizada pelo arquiteto que estava remodelando o layout do andar (ou seja, mudando as pessoas de um lugar para o outro). Perguntei pro gerente de marketing que sentava perto de mim o que estava acontecendo e ele me disse: "fernanda, você é estagiária, é novinha, mas vou te dar um conselho, quanto mais perto da janela você sentar, mais as pessoas vão reconhecer que você é importante dentro da empresa, veja as salas dos diretores, estão todas perto das janelas". Conclusão, tinha umas 50 pessoas brigando para saber o quão perto das janelas elas iam ficar para mostrar toda a sua liderança e competência e legitimidade etc. Esse gerente de marketing ganhou uma janela, eu, escrava de tudo, sentei perto da porta de entrada, na outra ponta, sem janela, sem lugar ao sol, sem nada, só a ralação de sempre. Hoje em dia, sempre que olho para a janela da grande corporação em que trabalho eu rezo pra não virar uma dessas pessoas que brigam por uma janela.

paris disse...

lugar perto da janela, cartão de visitas, convite pro aniversário do chefe, almoço com integrante da diretoria, "convite" pra participar do 'evento no sábado'.

Unknown disse...

carro da empresa com motorista, laptop Sony bem fininho com mala Samsonite de rodinhas, blackberry, verba de representação (verba para pagar jantares, prostitutas, comprar roupas e presentes etc.), levar visitantes de helicóptero para a 'planta da fábrica', receber presentes chiquetérrimos dos fornecedores (vinhos, cestas de natal, canetas Mont Blanc), convite para jogar golfe com a diretoria... afe, a lista de bobagens não acaba.