sexta-feira

No meio da bebedeira

"Engraçado... Acho que te conheço de algum lugar", disse o cego.

Parada no ponto de ônibus, Loló se espantou. O cachorro babava no sapato da moça e não parecia ser dos melhores guias, já que ao mesmo tempo urinava no sapato do homem.

“Desde que mandei o Roberval embora, tá dando tudo errado. Esse traste tem problema na bexiga”, disse o sujeito. “Sai pra lá, seu filha da puta. O Roberval também era difícil, porque às vezes eu estava segurando no braço dele e de repente, sumia. O projeto de inclusão social, de retardados ajudarem os cegos em troca de uma cesta básica, sabe?”, prosseguiu o sujeito.

Loló queria se afastar do homem, mas ficou com pena. “Às vezes, ele mijava que nem esse bosta, mas não era toda hora. E nunca mijou em mim, entende? Além do mais, a gente que tem problema na lanternagem precisa de ajuda pra fazer qualquer coisa, até pra mijar no banheiro”.

A moça se sentiu aliviada quando apareceu Xisto, o namorado, e deu dois puxões com suas mãozinhas na barra da camisa. Com um gesto, Xisto indicou pra irem embora. “Eu já te disse que faço leitura labial”, sinalizou em resposta, antes de pegar o rapaz no colo.

“CORTA!”, gritou Geymael. “Agora vamos pra locação da sinuca entre os anões e os manetas!”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Como é rejuvenescedor ler o bom e velho lirismo e sutileza de N.T. de volta!
abs

paris disse...

obrigado Edmundo. bondade a sua.