terça-feira

Novela em um minuto e meio

Malaquias cochila às 3 da tarde no canteiro central da avenida Paulista e nem o sol na cachola, nem a ressaca de 51 vão causar dor de cabeça logo mais.


Logo depois do almoço de negócios, Laurita andava apressada. Massageou as têmporas e tapou o nariz quando teve que desviar do bêbado caído do lado do relógio na ilha da avenida. No mostrador, 30 graus. Um suco de clorofila ativada com a aspirina para salvar a tarde no escritório, pensou.


O ronco do busão serviu de despertador. Malaquias levantou e ajeitou o papelão bem rápido, para aproveitar o semáforo aberto. Correndo em ziguezague, trombou na dona de colar e sapato de salto alto.



Com o tranco por trás que tomou do mendigo fedorento, Laurita deixou voar da mão o comprimido. Sem saber se chorava ou vomitava, começou a procurar o remédio na aguinha da sarjeta.


Kika foi pedir desculpa pra patroa, mas ficou meio assustado quando viu que ela tava lavando a mão junto da calçada.


Laura Christine Toledo Vianna de Itaboraí Dunhan, 32, duas faculdades, dois anos em Londres e a carteira do Club Atlhetico Paulistano na bolsa, remexia desesperadamente a poça em busca do pedacinho branco de paz e tranquilidade.


"MERDA! SEU FILHA DA PUTA! EU VOU TE ARREBENTAR, SEU ARROMBADO!", ouviu Malaquias, antes de correr de volta para o canteiro e cruzar a avenida, dessa vez desviando dos carros, com Laurita no encalço.


O soldado Borges e o cabo Costa Sant'Ana, acomodados no supedâneo(1) ao lado do agência bancária, discutiram sobre usar ou não o Taser(2) recém-adquirido pela Associação dos Comerciantes.




(1) cabine de fibra de vidro ornamentada com o brasão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
(2) arma não-letal que emite ondas T na ordem de 800 mil volts, interrompendo as ligações entre o sistema nervoso central e os músculos do criminoso.

5 comentários:

Anônimo disse...

Crônica do estilo que eu gosto...

Anônimo disse...

muito legal, qdo será o próximo capitulo?

Anônimo disse...

Você foi lembrar justamente do supedâneo?

Anônimo disse...

como se descobre que aquele negócio se chama supedâneo? Você pergunta pro polícia? Você pergunta pro Houaiss? Você digita no Google 'cabine do polícia comunitária'?

paris disse...

no google você descobre qualquer referência pra qualquer coisa, errada ou certa. não pergunto pro "polícia" ou procuro no dicionário. "anônimo", por exemplo. se identifica amigo. abs.